"Há na loucura um prazer que só os loucos conhecem." (John Dryden)

sexta-feira, 23 de março de 2012

TEXTO SOBRE CLINÍCA

GRUPO OUTROLHAR

CONSTRUINDO UMA REFLEXÃO SOBRE CLÍNICA

            Para ampliar nossas conversas sobre clínica, sugiro a leitura de artigos, textos, capítulos de livros, etc., que possam levantar questões acerca da relação que se estabelece com o paciente. A intenção reside na busca por um sujeito lá onde a segregação, a dificuldade de colocar em palavras verbais, a falação (o desabafo) e o silêncio (como forma de dizer) anunciam a possibilidade de eclosão de uma pessoa que busca o rumo de seus processos de sofrimento e “cura”.
            Quer dizer, entre o tempo de observar (a cena, a manifestação do paciente, a encenação do contexto, suas histórias de vida) e momento de concluir (o quê?), requer um tempo importante e essencial de compreender. Alunos e professores precisamos lidar com o silêncio entre uma pergunta e uma resposta (que pode ser um silêncio verbal), quer seja na relação entre alunos, entre professores e alunos, bem como entre pacientes e alunos, etc.
            O fazer CLÍNCA mostra-se imperativo nesse atravessamento que nossas discussões no GRUPO tem nos feito chegar bem perto. Não poderia ser inoportuno a temática da Saúde Mental neste contexto como norteamento dessa discussão, não excluindo outros campos do conhecimento, mas fazendo jus à existência de nosso GRUPO que por hora se inaugura. A questão é o diálogo dos saberes: os investidos (a experiência), os constituídos (protocolares, científicos, etc.), além da troca entre os mesmos para o advento de novas perspectivas clínicas no campo da medicina.
            Assim, sugiro que façamos uma leitura de alguns, são eles em ordem de complexidade/importância:


  1. CAMPOS, R. T. O & CAMPOS, G. W. S. Co-construção de Autonomia: o sujeito em questão. In: Tratado de Saúde Coletiva. CAMPOS, G. (org et al.). Editora: Hucitec, Fiocruz, São Paulo-Rio de Janeiro, 2009, p. 669-688.

  1. MERHY, E. E. Um ensaio sobre o médico e suas valises tecnológicas: fazendo um exercício sobre a reestruturação produtiva na produção do cuidado. In: Saúde: a cartografia do trabalho vivo. Editora: Hucitec, 2005, p. 93-112.

3.      BARROS, V. A & SILVA, L.R. A Pesquisa em História de Vida. In: GOULART, I. B. Psicologia Organizacional e do Trabalho; teoria, pesquisa e temas correlatos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002, p. 133-146.

  1. CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense. 4 ed, 1995, cap IV – Doença, Cura e Saúde, p. 144-163.

  1. BASAGLIA, F. O. Saúde/doença. In: AMARANTE, P. & CRUZ, L.B. Saúde Mental, Formação e Crítica. Rio de Janeiro: LAPS, 2008, p. 17-36.

6.      METIPOLÁ.  A Clínica e seus impasses. Oficinas: Expressões. O cotidiano e suas bordas. Revista do CERSAM Leste: Centro de Referência em Saúde Mental da Regional Leste de Belo Horizonte, 1997, p. 4-26.

7.      LOBOSQUE, A. M. Princípios para uma clínica antimanicomial e outros escritos. São Paulo: Hucitec, 1997. 96p.

8.      LÉVY, A. Ciências Clínicas e Organizações Sociais: sentido e crise do sentido. Belo Horizonte: Autêntica, p. 19-30.

9.      VIGANÓ, C. A construção do caso clínico. In: Psicanálise e Saúde Mental. Curinga/Escola Brasileira de Psicanálise – Minas Gerais, 1999, p. 50-59.

10.  BORGES. M. E. S. Trabalho e uso de si – para além dos “recursos humanos”. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 2004, vol 7, PP. 41-49.

Agora, para estabelecermos uma conversa/parceria com a equipe do PAI-PJ e do LABTRAB da UFMG, sugiro a leitura obrigatória dos seguintes artigos:

  1. BARROS, Fernanda. Otoni. A SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO AO LOUCO INFRATOR. Acrise: desafio estratégico da Reforma. Editora: Hucitec. Saúdeloucura, nº 9, 2009, p. 125-136.
  2. LIMA, M. E. A. Esboço de uma crítica à especulação no campo da saúde mental e trabalho. In: SAÚDE MENTAL & TRABALHO: Leituras. Petrópolis: Editora Vozes, 2003, p. 50-81.


Acho que os referidos artigos se bem lidos e analisados, trarão um ponto vista muito interessante sobre CLÍNICA – não somente a clínica no campo da Saúde Mental...

Abraços,

Enio Rodrigues,

sexta-feira, 2 de março de 2012

Leopold Auenbrugger - Músico Criador do Revolucionário Método de Examinar os Pacientes Através da Percussão das Cavidades

“A Auenbrugger pertence esta bela descoberta”. Jean-Nicolas Corvisart (1808)
Como o austríaco Auenbrugger, memorável personagem do universo médico, mudou completamente o modo de detectar as doenças que acometem as cavidades orgânicas?

As coisas se deram mais ou menos assim: até o século dezoito os principais meios diagnósticos disponíveis consistiam em ouvir adequadamente a história do paciente, inspecioná-lo, contar a freqüência respiratória e o pulso. Aferir a temperatura ainda era algo novo e não constava no exame padrão recomendado pelos professores da época. Estetoscópio? Nem pensar, ainda não existia (seria inventado por Laennec décadas mais tarde). Se uma determinada cavidade do corpo, a chamada caixa torácica, por exemplo, fosse acometida por uma doença qualquer, se enchia de um líquido estranho e os médicos não tinham outra forma de detectar a agressão senão no exame pós-morte, a autópsia. Com o mal longe dos olhos e das mãos dos médicos os danos eram inexoráveis.

Aí aparece a inventividade do nosso personagem, o médico e flautista Joseph Leopold Auenbrugger. Filho de um estalajadeiro, o médico aprendeu com o pai a avaliar a quantidade de vinho de uma barrica pela percussão. Quando se formou em medicina, teve a idéia – diz-se ele – de adaptar tal procedimento ao exame do doente. Ele foi o criador de um novo e revolucionário modo de examinar os pacientes: a percussão das cavidades orgânicas. Músico, ele estava familiarizado com coisas como ressonância, timbre, altura do som, o que lhe ajudou muito em seus estudos sobre o novo método.

Em condições normais as vibrações produzidas pela percussão do tórax são abafadas devido a grande diferença acústica observada entre a parede torácica e o parênquima pulmonar. Se o parênquima é substituído pelo ar, como ocorre na situação conhecida como penumotórax, a diferença acústica se acentua ainda mais, e o abafamento do som se torna mais pronunciado. O resultado é um som de maior amplitude e duração, francamente musical, descrito sempre como “timpânico” (em referência ao tímpano) instrumento musical presente em qualquer orquestra sinfônica da atualidade. Se o tecido pulmonar é preenchido por líquido ou algo sólido, a dita diferença acústica é minimizada e o som produzido se torna de baixa amplitude e curta duração, descrito usualmente como “surdo”.

Na literatura: Em 1761, o famoso médico publicou seu Inventum Novum ex Percussione Thoracis Humani, obra escrita em latim, de 97 páginas, que apresentou o revolucionário meio de investigação das cavidades orgânicas. Ao apresentar sua obra à comunidade científica, Auenbrugger escreveu:

Apresento ao leitor um novo método para detecção de doenças, descoberto por mim. Consiste na percussão do tórax e na avaliação das condições internas da cavidade de acordo com a ressonância do som assim produzido. Minhas descobertas não foram antes confiadas ao papel por causa de um incontrolável impulso ou pelo desejo de teorizar. Sete anos de observação tornaram o assunto claro pra mim, o suficiente para que me sinta em condições de publicá-lo. Sei que encontrarei oposição às minhas opiniões. A inveja e a acusação, o ódio e a calúnia sempre foram o ônus daqueles que iluminaram a arte ou a ciência com suas descobertas. Leopold Auenbrugger (1761).
De fato, somente 46 anos depois, quando o clínico francês Jean Nicolas Corvisart, médico pessoal de Napoleão Bonaparte, introduziu o método percussivo na prática clínica e divulgou sua tradução em francês do trabalho de Auenbrugger é que a importância do invento foi definitivamente estabelecida.

REFERÊNCIAS:
1. Sakula, Alex. Auenbrugger: Opus and Opera. J.Roy. College Physicians,Vol 12; 1978.
2. Souza, Álvaro N. – Grandes médicos e grandes artistas – nomes que deram vida a medicina e as artes. – Salvador, BA, 2006.
3. SCLIAR, Moacyr, "A Paixão Transformada", Companhia das letras, São Paulo, 1996